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Publicada em: 24/03/2014 17:02 - Atualizada em: 25/03/2014 13:51
Depoimento macabro sobre o desaparecimento de ex-estudante do Gammon no Araguaia
Mistério pode ter sido esclarecido em depoimento de militar reformado do Exército à Comissão da Verdade, no Rio de Janeiro

Paulo Malhães, militar reformado do Exército encarregado de desaparecer com os corpos dos guerrilheiros do Araguaia. Foto extraída do jornal Primeira Hora

 

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Ontem, domingo, dia 23, um coronel reformado do Exército, Paulo Malhães, disse à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro que a busca pelos restos mortais de militantes de esquerda desaparecidos na Guerrilha do Araguaia é inútil. Ele contou que, na segunda metade da década de 1970, foi encarregado de chefiar uma missão na região da guerrilha, no sul do Pará, cujo objetivo era desaparecer para sempre com os corpos dos guerrilheiros.

Um dos que lutou na Guerrilha do Araguaia e que foi morto e está desaparecido é o ex-gammonense Adriano Fonseca Filho, o "Adrianinho" ou "Queixada", estudante do Instituto Gammon na década de 60. Adriano, cuja alcunha "Adrianinho" foi por causa de sua estatura, 1,96, jogou basquete em Lavras e aqui estudou do primeiro ao terceiro ano científico, o Ensino Médio, como é dito hoje. Já o apelido de "Queixada" foi devido ao queixo grande que tinha.

Ele era natural de Ponte Nova (MG), era o segundo de cinco irmãos em uma família presbiteriana, por isso que veio para Lavras estudar numa escola de protestantes. Seu ginásio, ou Ensino Fundamental, como é chamado hoje, foi no Colégio Batista em Belo Horizonte. Tanto em Belo Horizonte quanto Lavras, estudava em regime de internato.

Aos 17 anos terminou o curso científico em Lavras, transferindo-se, então, para o Rio de Janeiro, onde se envolveu com a política. Pouco depois da morte de Edson Luís de Lima Souto, no Restaurante Calabouço em 1968, no Rio de Janeiro, Adriano foi para Ponte Nova onde ficou por seis meses com a família. Nesta época estreitou sua amizade com o compositor e cantor João Bosco. Adriano também era ligado à música e à arte.

Seis meses depois voltou para o Rio, onde trabalhou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se dedicou ao teatro, encenando e escrevendo peças teatrais. Uma das peças em que atuou como ator foi encenada no teatro "Tereza Rachel". Adriano estudou no cursinho pré-vestibular do Centro Acadêmico "Edson Luís" (CAEL) em 1968 e, nesse período, iniciou sua participação no movimento estudantil em luta por aumento de vagas nas universidades.

Adriano foi aprovado no vestibular no final de 1968, iniciando o curso de Filosofia em 1969. Ainda no primeiro semestre de 1969, começou sua militância política no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Participou ativamente do movimento estudantil e, em 1970, após a edição do Ato Institucional n. 5 (AI-5), com a intensificação da repressão, foi obrigado a entrar para a clandestinidade. Nesse período, foi morar num sótão, em um prédio antigo no Leblon com Ronald de Oliveira Rocha, seu companheiro de organização. Aí viveu durante um ano e meio.

No final de 1970, início de 1971, participou da Comissão Organizadora da Juventude Patriótica, movimento de frente única de jovens, criado por iniciativa do PCdoB. Já nessa época abandonou o emprego devido às questões de segurança, por já estar vivendo como clandestino. Foi então que se colocou à disposição do PCdoB para fazer um trabalho especial no campo. Em função disso, foi destacado para ir para o Araguaia, indo viver na região da Gameleira, incorporando-se ao Destacamento B, cujo comandante era Osvaldo Orlando da Costa - o Osvaldão, e usando os codinomes Chicão, Queixada, Alberto e Felipe. Tinha, nessa época, 23 anos de idade. Adriano Fonseca Filho foi ferido em combate no dia 28 ou 29 de novembro de 1973, próximo à grota do Nascimento, estando desaparecido desde então. Já o Relatório do Ministério da Marinha diz que ele foi "morto na região do Araguaia em 3 de dezembro de 1973".

A história da militância na guerrilha do ex-gammonense foi contada no jornal "Correio Brasiliense", em agosto de 2006. Foi publicada uma entrevista com o mateiro Cícero Pereira, que disse ao jornal: "não quero morrer com esse peso na consciência, sem contar tudo o que vi.'' No trecho mais assustador de seu depoimento, contou como assistiu à morte e decapitação do guerrilheiro Adriano Fonseca Fernandes Filho, conhecido como Chicão (codinome) ou Queixada. ''Ele foi morto por Raimundinho com um tiro de espingarda no peito, a mando do tenente que comandava a operação'', afirmou Cícero. ''Quando recebeu a bala, o Chicão botou a mão na cara e deu um gemido doído que até hoje parece que eu escuto".

''Depois, o mesmo Raimundinho cortou a cabeça do Chicão'', afirmou. ''Ajudei a carregar a cabeça dele num saco pelo meio da mata'', destacou o ex-guia do Exército no Araguaia. ''Pesava tanto que até parecia um corpo inteiro''. Seguindo as indicações de Cícero, o Correio tentou encontrar Raimundinho, um camponês, mas o homem acusado de matar Adriano não foi localizado. Cícero conta que assistiu a tudo com uma espingarda na mão e um pé apoiado num toco. Isso teria acontecido no final de novembro de 1973.

O mistério do desaparecimento do corpo do guerrilheiro que morou e estudou em Lavras pode ter sido esclarecido com o depoimento do coronel reformado do Exército, Paulo Malhães. Em seu relato, ele contou que foi encarregado de desaparecer com todos os corpos dos guerrilheiros do Araguaia, eles foram desenterrados e jogados em rios, após terem arcadas e dedos das mãos arrancadas, para não serem identificados. Ainda de acordo com o coronel, na chamada "operação limpeza" do Araguaia teriam sido empregadas as mesmas técnicas utilizadas para o desaparecimento de opositores do regime militar em áreas urbanas. Os corpos eram postos em sacos impermeáveis e com pedras de peso calculado, para impedir que afundassem completamente ou flutuassem. O ventre da vítima também era cortado, evitando assim que inchasse.

O objetivo era criar condições para que o corpo fosse arrastado pelo rio. "Podem escavar o Brasil todo, mas não vão achar ninguém, porque nós desaparecemos com todo mundo", disse Malhães. O coronel aceitou um convite da Comissão Estadual da Verdade do Rio para falar sobre sua atuação no Centro de Informações do Exército (CIE), na década de 1970. Recebeu em sua casa uma integrante e um assessor do grupo e, em dois encontros, no período próximo ao carnaval, falou durante 17 horas.

"Ele disse que essa 'operação limpeza' empregou os mesmos métodos em todo o País, quando se decidiu desaparecer com os corpos", disse neste domingo, 23, o presidente da Comissão Estadual, advogado Wadih Damous. "Contou que chefiou a operação na região da guerrilha, durante a qual desenterravam os corpos e desapareciam com eles. O padrão era o mesmo: após os cortes no abdômen, ensacavam e jogavam no rio, com pedras. Isso era feito lá mesmo, nos locais onde eram encontrados."

O coronel Malhães tem hoje 76 anos, foi uma importante peça na engrenagem do Centro de Informações do Exército (CIE), um serviço de inteligência do governo militar, dedicado à informação nos anos da ditadura. Malhães fazia parte do núcleo mais duro da instituição e foi um dos responsáveis pela Casa da Morte, em Petrópolis - o maior centro de tortura e desaparecimento de presos políticos do País entre 1971 e 1973. 

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