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Publicada em: 04/06/2013 15:14 - Atualizada em: 05/06/2013 00:01
Família de militar de Ribeirão Vermelho, que foi preso e torturado na época do golpe de 64, será indenizada
Comissão da Verdade, do Ministério da Justiça, pediu a reparação para um militar de Ribeirão Vermelho

Reinaldo Nunes da Silva, sobrinho do cabo Saturnino e representante da família junto à Comissão da Verdade. Foto extraída da página da anistiapolitica.org

 

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A Comissão da Verdade recomendou que um cabo da Polícia Militar fosse promovido diretamente à patente de coronel, isso para amenizar um erro do passado. O cabo Cecílio Emídio Saturnino, nasceu em 1940 e morreu em 2001, ele era mineiro da cidade de Ribeirão Vermelho. A recomendação da promoção foi da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, ele foi preso e torturado barbaramente pelo governo repressivo.

A história do cabo da PM foi contada à Comissão da Verdade pelo seu sobrinho, Reinaldo Nunes da Silva, segundo ele, Saturnino era mineiro da vizinha cidade de Ribeirão Vermelho, seu pai era ferroviário e mudou-se para o Rio de Janeiro e depois para Belo Horizonte, onde ele ingressou nos quadros da PM mineira. Com o golpe militar de 1964 Saturnino foi marginalizado por não apoiar o golpe, e ainda participou de grupos de esquerda que lutavam contra o regime totalitário.

O cabo Saturnino morava no quartel e passava informações, sob a orientação da Ação Libertadora Nacional (ALN), aos militantes. Numa das ações da ALN, numa agência bancária em Belo Horizonte, Saturnino fazia a guarda e liberou o trânsito numa das avenidas para facilitar a fuga dos militantes da ALN. 

"Após essa ação ele foi informado por companheiros de farda que comungavam das ideias que seria preso e fugiu", contou o sobrinho. Saturnino foi para o Rio de Janeiro, para o interior de Minas, onde deu treinamento de tiros a militantes da ALN, e para São Paulo, até ser preso em São Vicente, no litoral paulista. 

Reinaldo contou também que, quando seu tio estava clandestino, os órgãos de repressão do Exército e da polícia perseguiram a família. "Cada policial tinha quatro fardas e meu tio havia deixado duas na minha casa. Estávamos esperando um momento para sumir com elas. Quando eu saí pela janela, a polícia viu um movimento em um matagal próximo a minha casa, no bairro Primeiro de Maio, e atirou", lembra Reinaldo, que tem até hoje chumbo de estilhaços da bala em sua perna. 

Reinaldo contou que Saturnino foi torturado diversas vezes no antigo Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais (Dops-MG). "Teve uma vez, em 1971, que eu e o meu avô fomos visitá-lo no Dops. Ele foi torturado no pau de arara, levou choque elétrico e teve agulhas enfiadas debaixo das unhas. Depois, ele teve as 20 unhas arrancadas", disse.

Saturnino seria morto pela repressão, assim havia sido determinado, porém, a família fez pressão e vigília na porta do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde ele estava detido, devido a isso ele não foi morto, mas foi transferido de Belo Horizonte para o complexo penitenciário de Linhares, em Juiz de Fora.

Um dos companheiros de Saturnino no presídio foi Gilney Viana, atual coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal. "A ALN tinha um aspecto militarista e o fato de ele ser militar era muito importante. Mas quem o conheceu pessoalmente pode ser surpreendido por ele ser tão engajado em uma organização guerrilheira, pois era um sujeito muito dócil", recorda Viana. 

Em 1979 ele deixou a prisão, com a anistia. Saturnino se formou em jornalismo, trabalhou em jornais e revistas até ser contratado pela empresa Construtel, segundo relato do sobrinho Reinaldo. O proprietário da empresa à época era o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), militante da Corrente Revolucionária, que depois se integrou à ALN, a qual pertencia Saturnino. Lacerda também esteve preso em Linhares, em Juiz de Fora. Depois de participar de uma greve, Saturnino foi demitido. 

Agora a Comissão da Anistia do Ministério da Justiça recomendou a promoção do cabo Cecílio Emídio Saturnino a patente de coronel da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), porém, a promoção foi negada e o cabo recebeu a patente de sargento. A família receberá uma indenização que pode chegar até R$ 100 mil, mas para Reinaldo Nunes da Silva, representante da família, apenas a indenização, que pode chegar a R$ 100 mil, não é suficiente para cessar a dor dos parentes. "É preciso que se faça justiça, que os generais responsáveis pelas torturas sejam punidos, presos. Eles fizeram a ditadura mais sangrenta da América Latina", desabafou.

 

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