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O Jornal de Lavras começa hoje uma nova seção, uma seção ora cultural, ora medicinal, ora empresarial, política... o que comandará será a irreverência. Na verdade, ela não é tão nova assim, é o retorno da Frigideira, seção do jornal A gazeta que fazia grande sucesso na década de 80. A Frigideira retorna com o mesmo autor e ela sempre apontará a visão do Jornal de Lavras com relação aos assuntos aqui "fritados". Ela será publicada eventualmente, e a primeira publicação é sobre teatro.
Pedimos aos lavrenses que avaliem a peça e comente e dê sugestões. Como nós não entendemos nada de teatro, imaginamos que seja assim o script. Cenário: uma roça; atores: compadre um, compadre dois e a mulher do compadre um. Enredo: o compadre dois vai visitar o compadre um e o assunto é sobre a política de Lavras; durante a conversa dos dois, a mulher do compadre um, que cuida da lida da roça, fala com o marido, que conversa na varanda da casa com o compadre dois.
Primeiro e único ato
O compadre dois vai visitar o compadre um, ele está assustado, porque veio da cidade e ficou sabendo como anda a política em Lavras e o assunto desenrola nesta linha:
-Compadre, eu vim lá da cidade e a coisa lá ta feia, os vereadores tão pegando, tem briga quase todos os dias na Câmara Municipal.
-Que isso compadre, então o negócio é sério.
-Muito sério. O pior ocê num sabe, tudo passa na televisão. Me contaram tudo lá na cidade, se ocê quiser saber é só perguntar que eu falo.
-Compadre, então ocê conhece esse tar de Leandro Moretti?
- Conheço, foi ele que lançou a dupla Leone & Raí, mas agora ele ta mudando, ta querendo ser cantor e até formou uma dupla sertaneja com um blogueiro, dizem que o blogueiro escreve e ele canta. Pra falar a verdade, compadre, não vai dar muito certo não, sabe por que?
- hum
- A letra da música do blogueiro é um sertanejo moderno, é essa música meio sem pé e sem cabeça.
- Como que chama a dupla compadre?
- Esqueci...como que chama aquela arma do cano curto muito usada por bandido?
- Escopeta!
- Isso, a dupla chama Escopeta e Cartucheira.
- Hum!
-Lembrei de uma coisa, compadre, se algum dia esse tar de Leandro Moretti ti perguntar onde fica qualquer coisa, mostra pra ele com o queixo. Aponta com o queixo, viu?
-Por que, compadre?
-Se você apontar do dedo ele "plequeti!", quebra o seu dedo.
-Crus credo, Ave Maria! Escuta, compadre, e esse tar de delegado Cleber Provedor?
- Num é Provedor não compadre, é Pevidor.
- Engraçado, eu já ouvi aquele moço que trabalha num restaurante e que também é vereador chamando ele de Provedor.
-É, mas é Pevidor!
- O que ocê acha dele, compadre?
- Bão, eu acho que...
- Zééééé!!!
-O que muié?
-Posso sortar esse bicho diferente que está preso nesta gaiola?
-Não, deixa ele quieto aí, o veterinário falou que ele é exótico, que ele num ta enturmando com a bicharada não, o veterinário falou que ele ta meio triste assim porque ele num ta conseguindo misturar com outros bichos, ele ta meio fora do ninho.
-O que a gente tava falando mesmo, compadre?
-Dos vereadores compadre.
-Isso.
-Ô compadre, o que ocê acha desse tar de Tititi?
-Num é Tititi não compadre, é Tilili.
-Hummmm. O que ocê acha dele?
-Bão, eu acho que...
- Zééééé!!!
-O que muié?
-Esse galinho garnizé ta querendo brigar com todos os bichos aqui do galinheiro, posso separar ele?
-Não, deixa ele aí, num demora um galo índio pega ele de jeito e vai baixar a crista dele.
-O que a gente tava falando mesmo compadre?
-Dos vereadores, compadre.
-Isso.
-Compadre, e esse tar de Sô Zé?
-Sô Zé é benzedô.
-Né não compadre, ele é médico.
-Sô Zé não, é benzedô mesmo.
-Peraí, quem faz cirurgia num é médico?
-Claro!
-Então, eu escuto todo mundo falando que o tar de Sô Zé é cirúrgico na sua fala?!
-Pois é compadre, ele é benzedô, mas pode chamar ele de professor também, ele vive ensinando as coisas para os outros.
-Compadre, e esse tar de Zé Márcio?
-Num gosto dele não compadre, acho ele meio metido, só fala numa tar de ética, tem uma conversa ruim, fala que vereador tem é que legislar e fiscalizar o executivo. É metido porque nunca mandou um abraço pra ninguém. E tem mais, ocê conhece o Tião do Armazém?
-Claro, ele é amigo de todo mundo.
-Pois é, o tar de Zé Márcio nunca falou do armazém do Tião na reunião, nunca mandou um abraço pra ele. E quer saber mais? Ele é atreticano!
-Hiiiii, nois é cruzeirense.
-É, mas dizem que a turma dos atreticano também num ta boa com ele não, sabe por que? Ele viajou na van pra assistir jogo do Atretico e até hoje ele num falou do Juca motorista da van na televisão, num mandou abraço pra ele.
-Então ele é metido mesmo.
-Muito
-Por falar nisso, ocê conhece o tar de Tatu Cruzeiro?
-Num é urutu cruzeiro não?
-Não, é Tatu mesmo, um vereador que é dentista.
-Minha Nossa Senhora, tatu num faz buraco? Dentista num tem que tapar buraco do dente? Então tatu num pode ser apelido de dentista não.
-Eita, num tinha pensando nisso.
-E esse tar de Carlão da Saúde, ocê conhece?
-Conheço, conheço ele e o tar de Zé Bento da Ambulância.
-Taí, por que será que o Leandro Moretti num larga esse tar blogueiro que só sabe escrever coisa errada e investe neste dois vereadores e forma uma dupla sertaneja?
-Que dupla compadre?
-Saúde e Ambulância!
-Boa compadre, boa; mas ele quer mesmo é ser cantor da dupla Escopeta e Cartucheira.
-Compadre, e o Chapisco, ocê conhece?
-Conheço muito, ele parece com o Caçulinha do programa do Faustão, num parece?
-Verdade. E o que ocê acha dele?
-Bão, eu acho que...
- Zééééé!!!
-O que muié?
-Tira esse papagaio aqui da porta da cozinha, ôme, eu num aguento mais, ele fala muito.
-Deixa o bichinho, ele tomou muita estilingada, deixa ele, coitado, além das estilingadas, a cada quatro anos ele troca de dono, pula para outro poleiro, deixa o bichinho aí.
-O que a gente tava falando mesmo, compadre?
-Dos vereadores, compadre.
-É mesmo.
-Compadre, sabe quem eu vi lá na cidade? Aquele vereador, o tar de Zé Henrique, conhece?
-Conheço, ele é comunista, num é?
-Né não!
-Num é ele que quer tirar as terras da gente? Num é ele que quer fazer a tar de reforma agrária?
-Num é reforma agrária não compadre, ele quer fazer é reforma mobiliária, quer é tirar cadeiras lá da Câmara.
-Hum, tava julgando o homem errado então.
- Compadre, e o tar de Dr. Sebastião, ocê conhece ele?
-Conheço compadre, mas eu num gosto dele não, ele fez uma coisa comigo no seu consultório que eu não tenho coragem de contar pra ninguém.
-Engraçado, comigo também ele fez uma coisa horrorosa, também num conto pra ninguém e também num gosto dele. O compadre, bem que a gente podia pedir para o Leandro Moretti quebrar aquele dedo do Dr. Sebastião, o que que ocê acha?
-Boa ideia, compadre, assim eu me sentiria vingado.
-Eu também.
-Uai, o que que ele fez com ocê?
-Nada, nada, nada!
-Hummmm.
-Compadre, vereador bão mesmo é aquele que mora há duas léguas daqui, lá no Paiol. Aquele é bão, ele apresenta muita coisa boa pra gente aqui na roça.
-Uai, compadre, você me falou que não tava acompanhando as reuniões da Câmara, como que você sabe disso?
-Compadre, ele mora há duas léguas daqui e daqui eu escuto ele falar.
-Escutar ele há duas léguas de distância eu até acredito, mas daí a compreender o que ele ta falando... ocê por um acaso foi no tar de Dr. Sebastião e deixou ele enfiar o dedo dentro do seu ouvido?
-Cruz credo daquele homem. Ele não enfiou o dedo em nenhum lugar não, viu compadre.
-O compadre, me explica uma coisa: aqueles vereadores falam duas, três ou até quatro vezes numa mesma reunião, ta certo? Eu só num entendo duas coisas: primeiro por que eles cumprimenta as pessoas três quatro vezes, uma vez só num tava boa? A outra coisa é que eles cumprimentam as pessoas presentes dizendo "boa noite presentes aqui na platéia'. Platéia num seria plenário? Platéia num é pra circo?
-Compadre, lá vale platéia mesmo, se é que ocê me entende.
-E aquele grande vereador?
-Qual?
-O Possato.
-Uai, ocê acha mesmo que ele é um grande vereador?
-O danado tem quase dois metros de altura, num é mesmo um grande vereador?
-Verdade, o que tem ele?
-Ele é danado, quando num ta na televisão falando na Câmara, ta dando receita em programa de culinária, outra hora falando de esporte, outra hora falando de Lavras antiga, ele num perde a boquinha de aparecer na televisão, num é compadre.
-Verdade, mas agora ele tem um concorrente forte, um homem que fala mais que a muié da cobra, é o tar de João Paulo. Os dois, Possato e ele, bem que poderiam ensinar aquele cobrador do Prefeito a num falar bobagem.
- Quem cumpadre?
- Um que cobrou um tar de jegue, gespi, sei lá, qualquer coisa assim.
-E também aquele outro que só fala de ofícios enviados.
-Compadre, para encerrar a conversa agora vou te contar uma coisa que ocê num vai acreditar.
-Acredito, pode falar.
-Ocê lembra daquela que foi prefeita?
-Claro que lembro.
-Ocê lembra daquele que foi prefeito, o homem do dinheiro?
-Claro que me lembro.
-Pois é, os dois tão juntos, juntinho, eles criaram uma tar de força-tarefa pra derrubar o que hoje ta num lugar deles.
-Peraí! Peraí! Peraí! Ocê ta falando daquele que chamava ela de travesti Rogéria em público? Ta falando daquela que chamava ele de Carcará Sanguinolento?
-Isso mesmo, os dois tão juntinhos, ela vai na radia dele, ele também fala na radia e assim ta indo.
-Num acredito compadre. Meu Deus do céu. Isso é demais.
-- Zééééé!!!
-O que muié?
- Como eu separo o trato das criação?
-Num separa não, bota tudo no mesmo cocho, esses bichos são assim mesmo, eles se entendem, eles comem no mesmo cocho. Se eles começarem a brigar, num separa não, porque depois eles se entendem.
-Compadre, a prosa ta boa mas vou embora.
-Indé cedo, compadre.
-Não, vou pra casa fazer a lida da roça e depois tomar um banho e correr pra cidade, hoje tem reunião na Câmara.
-Então vai, compadre, depois ocê me conta tudo.
-Inté compadre, inté comadre.
-Inté!
-Inté.