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Publicada em: 08/09/2012 20:26 - Atualizada em: 09/09/2012 12:16
A história de um engraxate itinerante que colocou Lavras em seu roteiro
Engraxar sapatos era uma das primeiras profissões dos jovens até a década de 70, hoje eles estão desaparecendo.

Gilson Mota Correia, o engraxate itinerante,  estava na praça Augusto Silva no dia 7 de Setembro. Fotos: Jornal de Lavras

 

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O mundo mudou, mudou numa velocidade estonteante, antes o que era profissão hoje já nem existe mais, um exemplo disso é a figura do vendedor de enciclopédia, aquele homem bem vestido que visitava as casas carregando uma pasta enorme, que na sala de visita de nossa casa abria um mostruário colorido, cheio de figuras bonitas. Ele passava horas negociando com os nossos pais. Esta figura foi substituída pelo download, a enciclopédia agora está ao alcance do nosso dedo, muito mais completa que as impressas.

Outras profissões ainda resistem, são profissões que estão na "beira da morte", como o relojoeiro, o alfaiate e o engraxate. Ainda existem alguns relojoeiros e alfaiates em Lavras, mas em breve eles infelizmente não existirão mais. Quanto aos engraxates eles ainda resistem, na cidade tem alguns, são poucos, mas ainda tem, são jovens adolescentes.

Mas há duas semanas um engraxate adulto apareceu na cidade, isso chamou a atenção, porque engraxate adulto deixou de existir há mais de dez anos em Lavras. Ele chamou tanto a atenção que aguçou a nossa curiosidade e a reportagem do Jornal de Lavras conversou com ele na manhã do dia 7 de setembro, na hora da Parada da Independência.

Ele é Gilson Mota Correia, carioca de Bom Jesus do Itabaporana, no norte do Estado do Rio de Janeiro, na divisa com o Estado do Espírito Santo, uma cidade com menos de 35 mil habitantes.

Gilson contou que é engraxate desde menino, que ganhava dinheiro com a profissão, mas com o correr dos anos, os tênis e as vendas do produtos que são usados pelos engraxates nos supermercados estão, praticamente, extinguindo a profissão, "uma das mais elegantes", disse ele.

Gilson lembrou que nenhum grande aeroporto do Brasil tinha menos que dez engraxates, todos vestidos com elegância, uniformizados. Percebendo que a profissão está acabando, Gilson disse que mudou radicalmente sua vida e se tornou um "engraxate itinerante", uma espécie de nômade.

Gilson pegou estrada e viaja pelo Brasil engraxando. Ele estava em Teixeira de Freitas, na Bahia, de lá foi para Vitória da Conquista, depois Campos Salles, Medina, Padre Paraíso, Itabacori, Teófilo Ottoni, Frei Inocêncio, João Monlevade, Nova Era, Betim, Belo Horizonte, Congonhas, São João del-Rei e Lavras. Daqui ele disse que seguirá para São Sebastião do Paraíso.

Segundo ele, sua parada é de cerca de duas semanas em cada cidade, mas em Lavras ele pretende ficar mais alguns dias, isso porque, segundo ele, "a cidade é especial", disse que é especial não porque tem muito serviço, mas pelo povo. "Serviço aqui não tem muito não, nas cidades pequenas a praça é melhor", disse. Gilson contou que até já fez amigos na cidade e citou um: Renato Corrêa, que o entrevistou em seu programa.

"Pretendo ficar aqui mais alguns dias, gostei muito, mas muito mesmo desta cidade, o seu povo é um povo bom, um povo especial".

Questionado se era evangélico, já que seu equipamento tem mensagens da bíblia, ele respondeu que não, que era espírita, mas esclareceu sobre as mensagens: "Tudo que difunde a palavra de Deus é importante e merece o meu respeito".

Apenas para registro, os engraxates de Lavras eram, no passado, funcionários das barbearias, das tinturarias, dos hotéis e dos bares elegantes da cidade. O primeiro engraxate autônomo de Lavras foi Paulino Marcos. No dia 15 de março de 1910, um jornal da cidade estampou a seguinte notícia: "Surge uma novidade nas ruas de Lavras, sobretudo na região central, novidade esta privilégio apenas dos grandes centros: trata-se do primeiro engraxate autônomo. O pioneiro é Paulino Marcos, o primeiro engraxate ambulante de Lavras".

Segundo consta na história do município, o engraxate Paulino Marcos recebeu o equipamento de presente de um "viajante" português da Companhia Federal de Fundição, do Rio de Janeiro. Paulino Marcos chegou até mesmo a anunciar seus serviços em jornais da cidade. Em 1918, publicou no "Almanack de Lavras" a seguinte propaganda: "Quereis um calçado bem engraxado? Procure o Paulino Marcos, o popularissimo, no Bar do Internacional."

Paulino Marcos era uma figura respeitada na cidade, quando morreu em 29 de março de 1922, mereceu a seguinte reportagem no jornal A Gazeta: "Ele foi o primeiro engraxate de Lavras. Há doze anos passado muniu-se das suas escovas, da sua caixa, das suas latas de graxas e introduziu em nossa terra esse pequeno melhoramento. Humilde e bom, conquistou em todas as classes sociais as mais sinceras simpatia.

Por isso, seu enterro, quinta finda, compareceram lavrenses que representam a nossa sociedade em todas as esferas: a classe comercial, a classe operária, a magistratura, havia em todas as manifestações da inteligência e do trabalho.

A Banda Municipal, corporação que Paulino amava com entusiasmo, lá esteve, na homenagem derradeira ao companheiro desaparecido.

E, singelo, como tinha sido a sua vida de bom, o seu caixão baixou a sepultura, naquela tarde triste. É mais um lavrense humilde e querido que se foi". 

 

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