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Publicada em: 12/03/2012 21:03 - Atualizada em: 13/03/2012 11:06
A história de um gammonense desaparecido no Araguaia
A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou, em 2010, o Estado brasileiro no caso da Guerrilha do Araguaia. Agora, promotores querem passar o Brasil a limpo.

     

Ele foi assassinado e teve a cabeça cortada no meio da mata do Araguaia, ele morou em Lavras três anos e aqui fez amigos e admiradores

 

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O Ministério Público Federal (MPF) prepara uma série de ações contra militares que seriam responsáveis por crimes contra os direitos humanos durante a ditadura no Brasil, que teve início em 1964 e término em 1985, com a retomada da democracia. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo". 

Procuradores federais têm intensificado esforços para instaurar processos em busca dos responsáveis pelos chamados crimes permanentes - sequestro e ocultação de cadáver - praticados por agentes do Estado.

Segundo a reportagem do jornal paulista, procuradores federais estão prestes a ajuizar as primeiras ações nesses casos, mais conhecidos como "desaparecimentos". Eles defendem a ideia de que os possíveis autores de crimes permanentes não foram abrangidos pela Lei da Anistia, que cobre um período limitado de tempo, entre 1961 e 1979. 

Os procuradores federais em São Paulo concentram as atenções em quatro casos. Um deles é o de Edgard de Aquino Duarte, desaparecido em 1973. Na última sexta-feira, dia 9, ocorreu a segunda audiência para tratar do caso.

O segundo nome da lista é o de Aluízio Palhano Ferreira, que desapareceu em 1971, após ter sido detido pelo DOI-Codi.

O objetivo é reunir o máximo de provas para ajuizar ações contra os eventuais responsáveis pelos crimes. O trabalho focaliza essencialmente sequestro e ocultamento de cadáver, que são crimes permanentes. Quando se fala, por exemplo, em homicídio, existe a possibilidade de se alegar prescrição da pena.

Um dos desaparecidos políticos que deverá ter o caso também aberto pelo MPF é o de Adriano Fonseca Filho, o "Adrianinho" ou "Queixada" estudante do Instituto Gammon na década de 60. Adriano, cuja alcunha "Adrianinho" foi por causa de sua estatura: 1,96, jogou basquete em Lavras e aqui estudou do primeiro ao terceiro científico, o segundo grau, como é dito hoje. Já o apelido de "Queixada" foi devido ao queixo grande que tinha.

Ele era natural de Ponte Nova (MG), era o segundo de cinco irmãos em uma família presbiteriana, por isso que veio para Lavras estudar numa escola de protestantes. Seu ginásio, ou primeiro grau, como é hoje, foi no Colégio Batista em Belo Horizonte. Tanto em Belo Horizonte quanto Lavras, estudava em regime de internato.

Aos 17 anos terminou o curso científico em Lavras, transferindo-se, então, para o Rio de Janeiro, onde se envolveu com a política. Pouco depois da morte de Edson Luís de Lima Souto, no Restaurante Calabouço em 1968, no Rio de Janeiro, Adriano foi para Ponte Nova onde ficou por seis meses com a família. Nesta época estreitou sua amizade com o compositor e cantor João Bosco. Adriano também era ligado à música e à arte.

De volta ao Rio de Janeiro, cerca de seis meses depois, trabalhou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se dedicou ao teatro, encenando e escrevendo peças teatrais. Uma das peças em que atuou como ator foi encenada no teatro "Tereza Rachel". Adriano estudou no cursinho pré-vestibular do Centro Acadêmico "Edson Luís" (CAEL) em 1968 e, nesse período, iniciou sua participação no movimento estudantil em luta por aumento de vagas nas universidades.

Adriano foi aprovado no vestibular no final de 1968, iniciando o curso de Filosofia em 1969. Ainda no primeiro semestre de 1969, começou sua militância política no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Participou ativamente do movimento estudantil e, em 1970, após a edição do Ato Institucional n. 5 (AI-5), com a intensificação da repressão foi obrigado a entrar para a clandestinidade. Nesse período, foi morar num sótão, em um prédio antigo no Leblon com Ronald de Oliveira Rocha, seu companheiro de organização. Aí viveu durante um ano e meio.

No final de 1970, início de 1971, participou da Comissão Organizadora da Juventude Patriótica, movimento de frente única de jovens, criado por iniciativa do PCdoB. Já nessa época abandonou o emprego devido a questões de segurança, por já estar vivendo como clandestino. Foi então que se colocou à disposição do PCdoB para fazer um trabalho especial no campo.

Em função disso, foi destacado para ir para o Araguaia, indo viver na região da Gameleira, incorporando-se ao Destacamento B, cujo comandante era Osvaldo Orlando da Costa - o Osvaldão e usando os codinomes Chico, Queixada, Alberto e Felipe. Tinha, nessa época, 23 anos de idade. Adriano Fonseca Filho foi ferido em combate no dia 28 ou 29 de novembro de 1973, próximo à grota do Nascimento, estando desaparecido desde então. Já o Relatório do Ministério da Marinha diz que ele foi "morto na região do Araguaia em 3 de dezembro de 1973".

O jornal "Correio Brasiliense", em agosto de 2006, publicou uma entrevista com o mateiro Cícero Pereira, que disse ao jornal: "não quero morrer com esse peso na consciência, sem contar tudo o que vi.'' No trecho mais assustador de seu depoimento, contou como assistiu à morte e decapitação do guerrilheiro Adriano Fonseca Fernandes Filho, conhecido como Chicão (codinome) ou Queixada. ''Ele foi morto por Raimundinho com um tiro de espingarda no peito, a mando do tenente que comandava a operação'', afirmou Cícero. ''Quando recebeu a bala, o Chicão botou a mão na cara e deu um gemido doído que até hoje parece que eu escuto".

''Depois, o mesmo Raimundinho cortou a cabeça do Chicão'', afirmou. ''Ajudei a carregar a cabeça dele num saco pelo meio da mata'', destacou o ex-guia do Exército no Araguaia. ''Pesava tanto que até parecia um corpo inteiro''. Seguindo as indicações de Cícero, o Correio tentou encontrar Raimundinho, um camponês, mas o homem acusado de matar Adriano não foi localizado. Cícero conta que assistiu a tudo com uma espingarda na mão e um pé apoiado num toco. Isso teria acontecido no final de novembro de 1973.

Na matéria do jornal o mateiro Cícero faz sérias denúncias contra Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, um dos comandantes da repressão militar ao movimento armado do Araguaia. Ex-deputado federal, Curió foi o chefe do garimpo de Serra Pelada. Atualmente mora no Sul do Pará, próxima ao garimpo de Serra Pelada.

 

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