Roberto Moreira de Andrade, o Roberto Cabeludo, em seu monociclo
Matéria extraída do Jornal LAVRASnews
Esta semana Lavras perdeu uma página de sua história. Morreu Roberto Moreira de Andrade, uma das figuras mais conhecidas da cidade, não como Roberto Moreira de Andrade, mas como "Roberto Cabeludo". Roberto tinha a alma de artista e era dotado de uma grande inteligência - era ele mesmo que fabricava suas ferramentas e equipamentos que precisava para trabalhar em sua oficina.
Foi pioneiro em Lavras no trabalho de remoção com guincho, equipamento que ele mesmo fabricou. Sempre bem humorado, Roberto Cabeludo brincava até com as situações que para muitos eram desastrosas. Ele tinha uma oficina na Zona Norte da cidade, próxima ao ribeirão; até o início da década de 70, era frequente o transbordamento do córrego em período chuvoso e os moradores daquela região sofriam com as enchentes.
A Oficina do Roberto - assim ela era denominada - freqüentemente ficava debaixo d'água. Isso se repetia duas ou três vezes ao ano. Roberto não vacilou e mudou o nome de seu estabelecimento para "Oficina Marítima".
Ele era figura marcante nos eventos importantes da cidade, como o período eleitoral, quando animava os comícios com sua famosa "Nega Maluca", uma boneca de tecido em tamanho natural que era ligada a ele na ponta dos sapatos e que dançava fazendo gestos inimagináveis.
A campanha eleitoral de Leonardo Venerando Pereira, o Nadinho, e Paulo Reis, prefeito e vice, respectivamente, foi marcada pela presença da "Nega Maluca". Roberto e sua boneca garantiam a presença do público nos comícios.
Roberto desenvolveu também a técnica de andar de monociclo, o que ele chamava de "bicicleta de uma roda só". Com seu monociclo ele desfilava pelas ruas da cidade, quando Lavras tinha ainda um trânsito tranqüilo.
Não existia nada que ele não consertasse ou até mesmo fabricasse. Ele mesmo brincava, dizendo que o difícil ele resolvia na hora e o impossível, levava em torno de 15 a 20 minutos. Ele fabricou, usando peças do ferro-velho, uma estranha mão biônica. Questionado sobre o que ele faria com ela, Roberto respondia: "fabricar foi fácil, achar serventia para ela é que está difícil".
Com um motor de um cortador de grama ele inventou um redutor de volumes de lixo. O artefato foi adaptado a uma caixa de chapa galvanizada e quando o lixo era jogado na lixeira, o que era um cortador de grama funcionava e o volume do lixo era reduzido em 25%. "Estou economizando para a Prefeitura, reduzindo o lixo e ocupando menos espaço", dizia. E como gostava de brincar com tudo, dizia também: "me divirto quando vejo o lixeiro pegar o saco de lixo; ele faz uma cara estranha quando sente o peso do lixo".
Com a carcaça de um rádio velho encontrado na rua, Roberto montou uma geringonça enorme, usando tubos de PVC, latas vazias de tinta e outros artefatos; isso apenas para colocá-lo para funcionar, e o que é pior: funcionou. Os tubos de PVC e as latas vazias propagavam o som e ampliavam a capacidade do rádio.
Roberto era uma luz para aqueles que precisavam resolver um problema relacionado à mecânica. Infelizmente essa luz começou a se apagar há cerca de 8 meses, quando ele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Condenado a parar de trabalhar, Roberto Cabeludo partiu esta semana, deixando sua companheira Aparecida de Jesus Andrade e seus dois filhos: Valéria Aparecida Andrade e Luciano Andrade, que puxou o pai no lado artístico. Luciano é vice-diretor e professor do Conservatório de Música de São João del-Rei.
Roberto Moreira de Andrade, o "Roberto Cabeludo", morreu aos 74 anos e deixou, além da família, amigos e uma legião de admiradores. Roberto Cabeludo jamais será esquecido pelos lavrenses.
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