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Publicada em: 31/03/2011 07:52 - Atualizada em: 01/11/2011 22:08
O golpe militar, que completa 47 anos, também atingiu diretamente várias pessoas em Lavras
Rubem Alves e Nilson Naves foram vítimas do golpe militar de 64; eles foram presos em Lavras na época do período mais sombrio do Brasil.

     

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar. Na foto também Ernesto Geisel e Arthur da Costa e Silva

 

O Golpe Militar de 1964 foi um conjunto de eventos ocorridos há 47 anos, no dia 31 de março de 1964. O golpe, que muitos chamavam de revolução, encerrou o governo do presidente João Belchior Marques Goulart, o "Jango", que havia sido eleito, democraticamente, vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), na chapa que levou à presidência Jânio da Silva Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), apoiado pela União Democrática Nacional (UDN).

Jânio renunciou ao mandato no mesmo ano de sua posse, em 1961, e quem deveria substituí-lo automaticamente e assumir a Presidência era João Goulart, segundo a Constituição Brasileira vigente à época, promulgada em 1946. Porém, este se encontrava em uma viagem diplomática na República Popular da China. Militantes então acusaram Jango de ser comunista e o impediram de assumir seu lugar como mandatário no regime presidencialista, lembrando que Jango foi eleito pelo povo.

Depois de muita negociação, lideradas principalmente pelo cunhado de Jango, Leonel Brizola, na época governador do Rio Grande do Sul, os apoiadores de Jango e a oposição acabaram fazendo um acordo político pelo qual se criaria o regime parlamentarista, passando, então, João Goulart a ser chefe de Estado e Tancredo Neves, o Primeiro Ministro, assumindo o cargo de chefe de Governo.

Em 1963, porém, o povo voltou às urnas e optou pela volta do regime presidencialista. João Goulart, finalmente, assumiu a presidência da República com amplos poderes, como chefe de Estado e chefe de Governo, e durante seu governo tornaram-se aparentes vários problemas estruturais na política brasileira. Os Estados Unidos estavam alinhados aos militares que não queriam Jango e, sim, um governo duro e inflexível. Através de um trabalho arquitetado pela CIA, uma agência de inteligência responsável por fornecer informações de segurança, o Brasil mergulhou na escuridão no dia 31 de março de 1964. O regime militar durou até 1985, quando, indiretamente, foi eleito o primeiro presidente civil após as eleições de 1960, o mineiro Tancredo Neves.

O golpe afetou todo o país e também Lavras; muitas famílias ficaram intranqüilas quando viram seus parentes sendo presos. Muitos deles tiveram o nome marcado e receberam a pecha de "comunista", de "terrorista" e outros.

No dia 15 de agosto de 1968, o jornal "Última Hora" trouxe uma matéria de interesse de Lavras: depois de serem humilhados e de passarem por situações constrangedoras, um grupo de cidadãos lavrenses que foi preso pela ditadura militar em agosto de 1964, viram seus nomes finalmente "limpos", depois de exaustivo inquérito policial militar.

A matéria da "Ultima Hora" transcreve na íntegra o resultado do IPM – Inquérito Policial Militar – que pede o arquivamento do processo: "O Dr. Juiz Auditor do Conselho Permanente de Justiça Militar da 4ª Região Militar Antônio Arruda Marques, enviou ontem, um ofício ao Exmo. Sr. General Itiberê Gouveia Amaral, comunicando que mandou arquivar o processo de várias pessoas da cidade de Lavras, acusadas de Subversão, por completa falta de provas.

Logo após o julgamento, o Dr. Juiz Auditor expediu o seguinte ofício ao Exmo. Sr. General Itibirê Gouveia Amaral: "Comunico a V. Excia. Que em despacho de 13/8/1968, atendendo a pareceres do Ministério Público Militar, determino o arquivamento do I. P. M. em que figuram como indiciados por completa falta de provas as seguintes pessoas: Maurício Haddad, Luiz Capistrano de Alkimin (1º tenente da Polícia Militar de Minas Gerais, reformado), Herculano Pinto Filho, Leônidas de Souza Lima, Antônio Fernandes Neto, Evaristo Teixeira da Silva, Nilson Vital Naves (foto à esquerda), professor Rubem Azevedo Alves (foto à direita), Geraldo Ferreira, Ciro da Costa, Vasco José de Carvalho, Guilherme Winter, Francisco Rodarte (advogado), José da Silva Maia (ferroviário aposentado), Ezequiel Rabelo, Rui Rodarte, Rubens Martins Moreira, Dirceu Ferreira, Geraldo Moreira Santos (contador) e Fernando Chaves.

Mais tarde, outros lavrenses foram vítimas da ditadura: Itamar Mazochi e Douglas Vancura de Morais, ambos também foram fichados, na época, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Grande parte dessas pessoas foram presas no dia 13 de maio de 1964, ficaram detidas no Batalhão por três dias, sendo depois liberadas e aguardaram o julgamento em liberdade.

Nilson Vital Naves, que mais tarde foi ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e Rubem Azevedo Alves, o teólogo, doutor em filosofia, psicanalista e escritor, figuraram na lista dos "detidos em Lavras pela ditadura militar".

Outra vítima do golpe militar foi o deputado estadual Sylvio Menicucci, cassado pelo Ato Institucional número 5, o AI-5, promulgado na noite do dia 13 de dezembro de 1968. A cassação do deputado lavrense, que atingiu diretamente o povo de Lavras, foi alguns meses depois da publicação do ato.

Anunciada a cassação da voz que representava Lavras na Assembléia Legislativa, um grupo ligado à direita comemorou soltando foguetes na porta da casa do então deputado, um jornal da cidade festejou e um vereador pediu, na Câmara Municipal, "um voto de louvor ao AI-5".

Enquanto alguns comemoravam em Lavras, o então deputado cassado foi consolado com uma carta redigida no dia 21 de outubro de 1969 por uma pessoa que também foi vítima do golpe; vamos a ela:

 

Meu caro Sylvio,

O Ato que o atingiu, foi o mesmo que vem ferindo a liberdade e os direitos sagrados do homem, neste país.

A liderança que exerce, a correção de uma vida de alto nível profissional e intelectual, e a bondade de seu excelente coração, fizeram, do caro amigo, uma expressão da qual nós todos nos orgulhamos.

Você não podia, pois, ficar fora do alcance da "guilhotina" que cada dia vem ceifando mais cabeças na trágica e demolidora tarefa de liquidar com a vida livre no Brasil.

Quis ir a Lavras fazer-lhe uma visita. Receei, porém, as conseqüências que poderiam advir para amigos nossos naquela cidade e que se veriam, fatalmente, envolvidos na torrente que nada perdoa e que tudo destrói.

Pedi ao Tancredo para levar esta carta e reiterar-lhe, de viva voz, o meu apreço, a minha solidariedade, a minha admiração e a esperança que me alimenta de ver que tudo isto que está acontecendo, será a semente para a grande árvore da liberdade dos jovens que não aceitam, como têm demonstrado, a noite medieval que nos querem impor.

Receba um abraço, muito afetuoso,

Juscelino Kubitschek de Oliveira."

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